Por: Dra. Mariana Kessel, médica dermatologista
É na camada córnea, a camada mais externa da pele, que mantemos grande parte da nossa microbiota cutânea, representada por bactérias e fungos locais. Diferente de microbiota, o termo microbioma inclui todo o potencial genético destes microorganismos, sendo que um indivíduo expressa diversos microbiomas dependendo da região abordada. A pele é um grande reservatório e em especial os folículos pilosos por não estarem diretamente expostos a agentes anti sépticos.
As principais bactérias residentes da pele são o Propionibacterium acnes (bactéria anaeróbia e principal responsável pelo desenvolvimento da acne) Staphylococcus hominis e epidermidis (maior a colonização quanto maior a umidade cutânea local). Em indivíduos saudáveis normalmente não encontramos população expressiva de S. aureus e Streptococcus epidermidis como residentes permanentes, sendo este último encontrado com maior frequência em região perioral ou em outras áreas, precedendo o aparecimento de impetigo. No couro cabeludo a população fúngica também é encontrada de forma permanente, porém em equilíbrio com as bactérias residentes, não favorecendo em situações normais, o desenvolvimento de dermatites.
A flora bacteriana normal tem papel primordial no combate a infecções por mecanismo de competição ecológica e pela degradação de lipídeos sebáceos que resulta na formação de ácidos graxos que são tóxicos para algumas bactérias e fungos. Em situações onde há o desequilíbrio destas populações, seja por fatores extrínsecos (excesso de agentes anti sépticos, lesão direta, agressores térmicos e químicos) ou intrínsecos (disbiose, doenças autoimunes, distúrbios alimentares entre outros) as populações patogênicas crescem e desencadear patologias. Acne, dermatite seborreica, dermatite atópica são os principais exemplos de doenças da pele que podem ser deflagradas por alterações do microbioma.