Por: Dr. Leonardo Quicoli, médico cardiologista
No chamado novo normal, algumas das opções de lazer mais comuns são as lives musicais, as videoconferências com parentes e amigos e as noites de petiscos. Tudo isso acompanhado, geralmente, por um drink, uma taça de vinho ou uma cerveja.
A falta de uma rotina definida também contribui com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas na quarentena. Com os dias muito parecidos, às vezes, as pessoas até se esquecem em qual dia da semana estão. Assim, quem bebia apenas aos finais de semana já não segue mais essa regra.
Desde 24 de fevereiro de 2020, quando o Brasil teve o seu primeiro caso de COVID-19, até o início de maio, a venda de bebidas alcoólicas subiu 93,3% no país. O número é significativo e mostra que os brasileiros estão buscando na bebida alcoólica uma forma de relaxar diante de tantas incertezas.
O álcool em grande quantidade causa enfraquecimento das células musculares cardíacas, levando a uma doença chamada miocardiopatia alcoólica. O coração só consegue exercer sua função de bombeamento porque as suas células contraem e expulsam o sangue. Com o enfraquecimento dessas células, o coração tenta compensar dilatando suas câmaras, o que causa sua hipertrofia e aumento de tamanho.
Outra consequência da ingestão sem parcimônia é o fechamento de artérias. O etanol tem a capacidade de liberar adrenalina na corrente sanguínea. Nas artérias coronárias, esse hormônio fica alojado nas paredes e causa o vasoespasmo — fechamento transitório da artéria, que pode ser por pouco tempo ou por um intervalo suficiente para causar infarto ou morte súbita.
Além disso, o álcool pode levar a arritmias. O coração é uma bomba que contrai o tempo todo. Para fazer essa contração, ele precisa de atividade elétrica. Efetivamente passa uma corrente elétrica dentro do órgão. Álcool em excesso altera esse mecanismo, fazendo com que o coração saia do seu ritmo. Quando esse distúrbio é muito acentuado, pode ocasionar parada cardíaca, o que exige socorro imediato, e até mesmo a morte súbita.