Por: Dr. Leonardo Quicoli
Nos últimos anos, diversos episódios de morte súbita em atletas chamaram a atenção da imprensa, da comunidade em geral e dos profissionais médicos para um problema até então pouco valorizado. Um episódio de morte súbita em atletas traz grandes repercussões, pois ocorre em um indivíduo jovem e considerado pelo senso comum como uma pessoa saudável. A divulgação pelos meios de comunicação é ampla e imediata, e geralmente ocorre diante da torcida e das câmeras.
A morte súbita é definida como um evento inesperado, com perda abrupta da consciência em até uma hora após o início dos sintomas. Ocorre, geralmente, em indivíduos sem sintomas relevantes, porém em quase 90% dos casos há uma doença cardíaca não diagnosticada previamente. Durante a atividade física, o atleta com este tipo de problema pode desenvolver arritmia maligna e parada cardiorrespiratória (inesperada parada do funcionamento do coração e perda da consciência), que se não for revertida prontamente em alguns minutos leva à morte.
Nos atletas jovens, com menos de 35 anos, as principais causas de morte súbita são as doenças cardíacas congênitas, aquelas presentes desde o nascimento, mas que podem ser silenciosas ou só se manifestarem tardiamente. Pode haver sintomas premonitórios, como dor no peito, palpitações, falta de ar e desmaio, ou a primeira manifestação pode ser já a morte súbita.
Pesquisas recentes mostraram que a avaliação pré-participação, ou seja, a avaliação médica realizada antes do início da atividade física associada aos exames cardiológicos, principalmente o eletrocardiograma, são fundamentais na detecção das doenças cardíacas que podem levar à morte súbita. Esta avaliação, feita de forma criteriosa e por profissionais habilitados, é capaz de detectar a maioria das doenças que podem trazer complicações durante a atividade física e assim proporcionar que o exercício seja feito com maior segurança. Se for detectada alguma anormalidade, poderá haver a necessidade de algum tratamento específico ou, em casos raros e extremos, até afastamento definitivo das competições.
Nos atletas com mais de 35 anos de idade, a principal causa de morte súbita é o infarto agudo do miocárdio (“ataque cardíaco”). Para a sua prevenção, além da avaliação pré-participação, todos devem ser incentivados e orientados a adotar um estilo de vida saudável, com alimentação correta, prática regular de atividade física e controlar os fatores agressores do coração, ou seja, aqueles que aumentam o risco cardíaco: obesidade abdominal, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia (elevação do colesterol ou dos triglicérides).
Na avaliação médica destas pessoas, muitas vezes há a necessidade de realização de outros exames, como o ecocardiograma e o teste ergométrico. Diversos atletas, pelo receio de serem afastados da atividade esportiva, evitam ser submetidos à avaliação médica pré-participação, omitem os sintomas e o uso de substâncias proibidas, dificultando o diagnóstico e o tratamento. Este comportamento deve ser reprovado e todos devem estar cientes dos benefícios e da segurança que a avaliação pré-participação propicia.