Por: Dr. Rodrigo Mauro, médico nutrólogo
O nome dieta cetogênica vem da cetose, espécie de queima da gordura induzida pelo corte radical nos carboidratos. Sua eficácia é devido ao fato de que ao reduzir esse nutriente, que é o principal fornecedor da glicose que dá energia para as células, o organismo busca outras fontes de combustível, principalmente a gordura, que é o nutriente mais ingerido na dieta cetogênica.Além de usar a gordura corporal, dá origem aos corpos cetônicos, moléculas que interferem nos hormônios envolvidos no apetite, como a grelina. A cetose é o principal trunfo da dieta cetogênica, que pode variar em formato e limite de calorias ingeridas. No geral, o consumo de carboidratos fica abaixo de 50 g ao dia. Para se ter ideia, normalmente nós ingerimos cerca de 200 g ou mais do nutriente diariamente.
Para fazer a dieta cetogênica, é preciso conversar com um médico nutrólogo para entender a necessidade energética, uma medida individual que leva em conta fatores como idade, sexo, peso atual, altura e nível de atividade física. A partir daí, ele pode ou não estabelecer um limite de calorias diário. O cardápio não é pré-definido, mas sim adaptado aos gostos de cada um, e é composto de carnes e alguns derivados —com exceção do leite —, vegetais à vontade e gorduras de qualquer tipo. Não há um número exato de refeições por dia, pois cada pessoa sente fome em momentos diferentes.
Para induzir a cetose, é preciso que o corpo passe um tempo em escassez de carboidratos. Por isso, a dieta tem duração mínima de 2 a 3 semanas, podendo chegar a 6 meses. No geral, por conta da restrição severa, o programa dura por volta de 40 dias.
Durante a primeira semana, que é uma fase de adaptação, a falta de glicose para o cérebro pode provocar efeitos colaterais como mau-humor, cansaço e fraqueza. Mas depois a tendência é que o humor se estabilize e o corpo se “acostume” com a nova maneira de fabricar energia.
Na dieta cetogênica clássica, o consumo de carboidratos é baixo (entre 4% e 10% das calorias diárias) o de gorduras chega a 90% e não pode ser menor do que 60%, e o restante das calorias vêm das proteínas. A quantidade de calorias varia individualmente, mas costuma ficar entre 1000 e 1400 ao dia.Há ainda uma versão que diminui radicalmente o número de calorias, para menos de 800, a VLCKD (very low calories ketogenic diet) onde o número de refeições e o cardápio é mais controlado. Geralmente são seis refeições diárias já prontas, em pó, e só adicionamos algumas verduras e legumes.
Vale ressaltar que a dieta cetogênica é diferente da low carb, que também ganhou fama por reduzir os carboidratos do menu diário. Na low carb a ingestão de carboidratos pode chegar a 150 g por dia, enquanto na cetogênica o limite varia entre 20 e 50 g. As verduras estão todas liberadas e a maioria dos legumes, mas vários vegetais tem que sair do prato, entre eles batatas, mandioca e a família das leguminosas: feijão, soja, lentilha, ervilha etc. As frutas 100% permitidas são abacate e coco, pois são fonte de gordura.
No campo das gorduras, manteiga, castanhas, azeite, castanhas e banha de porco também entram no cardápio. Além destes, carnes, peixes, frango, ovo, queijos, iogurte e açaí completam a lista dos liberados. As únicas bebidas que podem ser ingeridas são água, café e chá sem açúcar.
No geral, a dieta privilegia alimentos naturais e limita produtos processados. Dentre os itens que não podem ser consumidos:
- Doces
- Pães
- Macarrão
- Farinhas
- Bebidas alcoólicas
- Amidos
- Sucos
- Tubérculos, como cenoura, batata, mandioca, inhame, etc
- Vegetais como milho
- Leguminosas, como feijão, soja, ervilha, grão-de-bico
- Outras fontes de açúcar não podem ser consumidos
O exercício físico deve ser aliado à dieta para que a perda de peso seja efetiva e saudável. Porém, como o organismo está se virando com pouca energia, alguns cuidados são necessários. A dica aqui é concentrar o consumo de carboidratos antes do treino. Por exemplo: um suco contendo 100 g de melancia e 100 g de beterraba tem, aproximadamente, 30 g de carboidratos.
Se você começar a se movimentar junto com o programa de alimentação, a recomendação é pegar leve. E ainda que o indivíduo já pratique atividades, o ideal é diminuir o ritmo, porque algumas pessoas não aguentam o exercício e podem apresentar fraqueza e cãibras.
Dieta cetogênica é segura?
Sim, mas com ressalvas. Primeiro, a dieta não pode ser feita por tempo prolongado, pois é muito restritiva. Ela é eficaz a curto e médio prazo, mas os mecanismos fisiológicos envolvidos nela suscitam preocupações. Por exemplo, pessoas com diabetes ou hipertensão devem ficar atentas pois frequentemente é preciso fazer ajustes nos medicamentos. Caso contrário, há risco de crises de hipertensão e hipoglicemia por conta das alterações no metabolismo.
Já quem tem doenças no fígado ou rim não pode seguir essa dieta, pois o aumento na ingestão de proteínas e gorduras pode sobrecarregar estes órgãos. Sem contar que cortar carboidratos significa deixar de ingerir vários alimentos com vitaminas e minerais importantes para a saúde, como cereais, leguminosas e frutas. A maioria dos estudos clínicos feitos até agora indica o uso de suplementos junto com a dieta cetogênica.
O alto consumo de gorduras é outro ponto a ser considerado antes de optar pelo plano. As sociedades médicas e órgãos internacionais preconizam uma dieta com baixa ingestão de lipídios. Ao fazer com que 90% das calorias venham da gordura, há o risco de aumento das triglicérides e colesterol, o que pode ser um problema para quem já tem níveis altos dessas moléculas.
Por conta de todos esses fatores, apesar de segura na maioria dos casos, a dieta cetogênica não pode ser feita sem acompanhamento médico. Como os carboidratos compõem a maior parte das refeições, ao cortá-los há uma redução das calorias consumidas diariamente que naturalmente leva ao emagrecimento. Fora isso, a cetose consome gordura corporal, o que também leva à perda de peso rápida que fez a dieta ficar famosa.