Cardiotoxicidade: Os efeitos dos quimioterápicos no coração

Por: Dr. Leonardo Quicoli, médico cardiologista 

Dentre os efeitos colaterais da quimioterapia, os mais conhecidos são a queda dos cabelos e o enjoo. Mas a cardiotoxicidade, os efeitos da quimioterapia no coração, também devem entrar nesta lista.Quando um paciente começa a fazer uso da quimioterapia para combater o câncer, ele passa a receber alguns medicamentos que podem ser bastante tóxicos para o coração, causando, assim, a cardiotoxicidade. Esta é uma complicação que pode acontecer tanto em pessoas que nunca tiveram problemas cardíacos, como também naqueles que já têm uma doença no coração pré-existente. Os efeitos da quimioterapia no coração também podem ser apresentados logo na primeira sessão do tratamento, como até mesmo após a finalização do protocolo quimioterápico.

Por ser uma questão de saúde bastante grave, é possível que a quimio tenha de ser suspensa. Serão os medicamentos utilizados na quimioterapia que irão definir o tipo da cardiotoxicidade que o paciente apresenta:

 

Tipo I – É causada pelos antracíclicos, classe de quimioterápicos bastante utilizada para diversos tipos de câncer e que pode causar lesão no coração. Como a maior parte dos pacientes acabam por apresentar os problemas anos após o tratamento, por conta de dose acumulada, é possível que seja irreversível.

Tipo II – Esta não tem relação com a dose cumulativa do quimioterápico e pode causar disfunção ao invés de lesão no órgão. Por isso, é geralmente reversível. Aqui, podem entrar os inibidores da tirosina quinase e também o carfilzomib.

 

É possível que o paciente oncológico possa apresentar:

– Disfunção miocárdica e insuficiência cardíaca

– Doença arterial coronariana

– Doença valvar

– Arritmias

– Hipertensão arterial sistêmica

– Doença arterial periférica

– Hipertensão pulmonar

 

É essencial que o paciente oncológico receba o diagnóstico o quanto antes, caso apresente qualquer alteração cardíaca. Exames para analisar o coração devem fazer parte da lista de cuidados exigida pelo oncologista.

Fique atento ao seu coração. Quando há algum problema, o corpo logo avisa. Fique de olho em sinais como:

– Falta de ar

– Dificuldade para respirar quando está deitado(a)

– Dificuldade para respirar, quando vai dormir

– Cansaço e fadiga

– Problemas digestivos, como a diarreia

– Aceleramento cardíaco

– Desmaios

– Formigamento nos braços

O problema cardíaco advindo da quimioterapia pode acontecer em qualquer paciente, seja no início ou até mesmo após o tratamento. Mas, como grupo de risco estão crianças com menos de 5 anos e adultos com mais de 65 anos; portadores de doença cardíaca preexistente; pessoas com fatores de risco cardiovasculares, como o cigarro; mulheres; pacientes que usam muitos quimioterápicos associados.Outro dado que chama a atenção é de um estudo publicado no Journal of Clinical Oncology, que aponta a leucemia como um dos tipos de câncer que têm um risco maior para desenvolver doenças cardíacas.

Mas calma! A cardiotoxicidade tem tratamento. Na equipe multiprofissional, um cardiologista será essencial para diagnosticar o problema cardíaco o quanto antes e dar início ao tratamento, se este for necessário. Serão avaliados: quais comorbidades no coração o paciente apresenta, qual o tipo de quimioterapia vem sendo aplicada, idade, fatores de risco. A partir de uma análise completa da saúde do paciente, o médico responsável irá definir qual a melhor terapêutica a seguir.