Por: Dr. Leonardo Quicoli, médico cardiologista
O talento de uma mulher para exercer, de forma tão versátil, quantidade inimaginável de funções, transcende a normalidade. Em diferentes sociedades, a mulher, quando não cerceada, mostrou-se extremamente eficiente em conciliar os afazeres maternos com as responsabilidades profissionais e empresariais.
Naturalmente, devido ao perfil de personalidade, a mulher tende a ser mais emotiva e mais sensível aos acontecimentos. Isso não significa, em hipótese alguma, que a mulher seja mais frágil; ao contrário, por ser mais sensível torna-se um ser humano mais forte, com maior capacidade de não ceder ao descompasso agudo do imprevisível.
Na manifestação bruta dos sintomas cardiovasculares, fundamenta-se o limite de tolerância do coração feminino. O efeito cumulativo de tantas atividades consubstancia o grau excessivo de estresse cardiovascular feminino. Não há como não descompensar em alguns momentos, apresentando sintomas como angina, palpitações, tontura e falta de ar, já que os hormônios femininos variam tanto ao longo da vida e as tensões e responsabilidades não cessam de acumular.
Os princípios da saúde cardiovascular salutar baseiam-se em evitar sedentarismo, não fumar, manter uma alimentação equilibrada e praticar atividade física regularmente. Em outras palavras, um sistema de condutas que se enfraquece diante das exigências maternais e profissionais de uma mulher moderna.
Lamentavelmente, a saúde cardiovascular feminina tem sucumbido, nas últimas décadas, aos agravos como infarto, derrame, trombose e arritmias. Cada vez mais mulheres de todas as idades, surpreendentemente as mais jovens inclusive, têm sido vítimas de eventos cardiovasculares fatais. Estudos revelam que mais de 20 mil mulheres morrem por dia em decorrência das doenças cardiovasculares. Esses números já ultrapassam as estatísticas do câncer de mama e de útero.
Ser moderno não implica necessariamente em ter melhor qualidade. O nível de estresse cardiovascular feminino tem sido inversamente proporcional às perspectivas preconizadas para uma mulher moderna saudável. Isso não pode continuar.
Não somente a conscientização individual é importante, como também o desenvolvimento de protocolos de prevenção de agravos cardiovasculares femininos e até políticas de saúde pública, que contemplem, em longo prazo, a redução da mortalidade cardiovascular feminina.
Cuidar mais da saúde do coração da mulher não significa abrir mão de todas essas conquistas. Você pode continuar sendo multitarefas, desde que preste mais atenção em si mesma. A mulher moderna se cuida.